quarta-feira, 17 de junho de 2020

No suspirar; Gaia




Amada mãe Terra,
Que nos alimenta e nos reintegra.
Se eu e meus antepassados, ofendemos tua família e teus antepassados,
Peço teu perdão.
Nos limpe, nos purifique
dessa dor, tormenta que produz o breu.
Da incerteza, do não estar, não pertencer,
não ser e não obedecer a ti,
amada mãe Terra.

Nós que descendemos dos mesmos ancestrais,
Da lua, sol, vento e mar.
Nos ensina a amar, nos ensina a tolerar.
Em casa repousamos, em casa esperamos
o Devir nos guiar.

Protegei nos, Amada mãe Terra.
Ilumina tua medicina, tuas águas, tuas raízes, teus homens
que derramam todo dia um pouco do suor, seja do corpo ou do pensar.
Águas salgadas produzidas pela tua natureza.
Ela que nos cria, ela que nos ensina e ela que nos modifica.
Assim encontro Gaia que suspira: "Deixe minha filha, deixe a terra se curar..."

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Thelma e

Nelson,





Te escrevo tentando uma comunicação, um jeito de saber onde você está e como você está. Aquele dia não me sai da cabeça, seu jeito deitado no sofá. Pergunta que não quer me calar "você estaria dormindo? Estaria vendo TV? O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO?"...QUERIA tanto tanto saber o que aquele dia se passou. Mas ainda lembro do seu cheiro, sua voz quando me chamava com carinho "teté?" como eu odiava quando você me chamava assim. Achava que era muito mais atraente você me chamando pelo nome inteiro. Apesar de saber que algo bom não viria.
Quando eu tinha dezesseis anos, papai era muito controlador, não me dava espaço e mau me ouvia. Logo que te conheci me perdi na sua segurança de falar, seu jeito engraçado de como você encantava a todos. Danilo não poderia ser diferente, Danilo é você inteirinho. Tenho medo do jeito ousado dele um dia deixar passar algo despercebido e acabar com sua vida. Não estou te culpando, porque não posso culpar, você já não está mais aqui e como eu queria te culpar. Gritar, xingar, berrar e controlar. Você sempre dizia que eu vivia para controlar tudo ao redor, que era dessas cancerianas que não se cansava de amar, ninar e mandar.
Nasci no Meier, em 1970 no meio de tantas informações culturais, não gostava muito de boate, era mais de casa mas sempre sonhei em trabalhar. Quando mamãe abriu o restaurante, tinha dez anos e queria no caixa ficar. Sonhava em papai rico, mamãe com roupas bonitas como essas senhoras de Copacabana. Sonhávamos em abrir restaurantes pela Zona Norte um dia quem sabe teríamos na zona sul para os bacana. Mas o gênio de papai era difícil e os funcionários não queriam ficar. Foi tanta gente que trabalho naquele lugar que não conseguimos uma equipe fixar. Na época do Collor, seguramos as pontas pra não fechar, era o sonho da família e não iriamos desanimar. Pra não fechar, papai pediu um empréstimo que acabou por nos endividar. Nesse meio tempo veio você, a única coisa que eu queria. Meu coração já me dizia, que com você eu queria casar. Você meu único namorado, meu único amor, meu terror. Você tinha aquele fusquinha, herança do seu querido vô Zequinha. Você amava contar sobre ele e muitas vezes sentia sua vontade de chorar. Lembro sua vontade de contar sobre tudo da sua vida, e muitas vezes só som emita porque eu não queria escutar. Minha cabeça estava na minha família, meu pai com câncer e minha mãe no restaurante. Eu tinha que ajuda! Você muitas vezes falava pra vender, você não compreendia, porque pra você tudo era passageiro, tudo virava água como você mesmo dizia e é onde hoje onde você está?
Seu jeito leve de viver, quase levou nosso filho embora, e disso eu nunca vou esquecer. Eu te amo do jeito seu ousado, engraçado, descontraído, despreocupado, teimoso, debochado e amado. Saber que eu nunca mais vou te ver, me faz escrever essa carta. Danilo é tudo pra mim, amor sem fim. Mas nunca mais quero um homem amar. Você foi navegar? Está no mar? Lembro a primeira vez que te vi de uniforme, meu coração estava como um cavalo a galope, era um sonho com você eu estar. Você subindo de cargo na marinha, e logo o nosso bebê vinha. Cuidei dos meus pais até o último dia de suas vidas, cuida da sua mãe doente, cuidei do nosso restaurante,cuidei da sua carreira na marinha cuidei de nosso filho e não cuidei de como a vida poderia me superar. Parece que a vida queria me mostrar que é mais forte que eu, e me tirou você para algo me mostrar. Não me entenda mau, não estou de mau com a vida, só queria hoje do seu lado estar.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Meu submundo

Cresci sendo peculiar, nunca me encaixei nos moldes da sociedade. Desde que nasci começando por ter um nome onde ninguém na escola sabia ao menos pronunciar; o meu nome seria um presságio do que minha pessoa se tornaria. Uma estranheza tão incomoda que deixei de incomodar as pessoas ao passar despercebida. Eles se acostumaram com meu jeito de ser, então minha saveword para quando alguém me questionava por ser assim, era minha mãe dizendo "Deixa! Ela é assim". Deixa eu sou assim. E por tanto ao acreditar que sou assim, não quis me encaixar em outros moldes ou tentar me entender. Aos dez anos comecei a me interessar pelas músicas clássicas que minha vó tocava no piano e tocando minha alma, a música se comunicava comigo. Eu achava que a minha vó era o instrumento dessa viagem transcendental. Com treze anos minha vó morre e assim descubro que ela não era. Ela não era esse instrumento. Eu achava que a minha vó era a pessoa que eu mais amava na vida até ela falecer. Não chorei no dia do velório, não senti falta, não senti nada e a única coisa que eu pensava era "preciso encontrar um jeito de escutar o som do piano outra vez". Foi assim que meu mundo teve contato com outro mundo: a internet. A música me levou ao meu submundo onde onde hoje eu vivo.
Nasci em uma família convencional; pais de classe média. Meus pais se separaram quando eu tinha quinze anos. Agora é aquela parte que você pensa "Deve ser aí que veio esse distúrbio sexual; adolescente com pais separados". Não. Nunca tive nenhum problema com a separação dos meus pais. Não sinto a falta dele, pois ele manda mensalmente o dinheiro que minha mãe precisa. Tenho uma irmã, que é oito anos mais nova do que eu. Tínhamos uma ótima relação na infância, ela no canto dela brincando de boneca ou com amigas e eu no quarto com meu fone de ouvido e jogando The Sims. Um dia comecei a brincar que meus The Sims tinham mais de uma esposa, ou que namoravam entre irmãos, ou que namoravam entre mulheres e homens e aí me vi realmente me divertindo. Aquela família Baunilha me entediava. Gostava da não-regra do meu submundo. E o submundo da internet é tão mais real do que a dos adolescentes ou jovens que eram da minha escola. Não tive paciência para ser criança, passei minha infância com minha vó escutando ela falar dos problemas dos adultos e assim obviamente não ia ter paciência para ser adolescente.
Quando minha irmã entrou na adolescência tudo mudou. Ela é daqueles jovens que eu evitava na escola, jovens a flor da pele que passam horas falando de sexo ou beijo na boca, ou maconha. Ela é aquelas meninas da minha escola que eu evitava até cruzar os olhos e agora está na minha casa no meu teto e me chama de 10 e em 10 minutos. Eu amo a minha irmã. Eu odeio essa menina.
Minha mãe é daquelas mães que foi trocada por mulher mais nova na separação e que baixou tudo que é aplicativo e programas de relacionamento para tentar alguém que ame ela de novo e de verdade. Vai para a academia e é viciada nos negócios, em si e em tudo que todo mundo posta no facebook. Poderia sentir raiva dela, mais a pena é tanta que a dó não deixa ter outro espaço. Ela quase nunca me dá atenção mas para mim está ótimo, porque não gosto de atenção, se gostasse meu nome se chamaria Lara e não Sâmia.
Aos 25 anos estou completamente envolvida nisso, ando vendo vídeos e estudando tudo. Achei quem sabe um porque da vida no qual eu me sinta do mesmo jeito de quando minha vó tocava aquele piano. Me sinto tocando o não dito, o transcendental, o mundo abaixo do mundo; o submundo. E nasce em mim uma vontade de estar mais viva do que nunca. Você deve estar perguntando como cheguei até você? Depois que terminei a escola, meu pai, o cara que comparece quando precisamos de bastante dinheiro, pagou para mim um intercâmbio no Canadá. Canadá foi ótimo porque era tão frio que as pessoas não precisavam ter vida social o que fez com que eu ficasse dois anos lá, fazendo faculdade de businnes (o porque também não sei, talvez por ter números que são mais fáceis de lidar do que as pessoas, que são humanas). Quando voltei para o Brasil, a nostalgia do meu quarto me levou a baixar novamente The Sims. A versão mais nova do The Sims era ousada, e eu gostei. Tinha um vampiro que visitava minha The Sims e assim eles transavam, enquanto aparecia os bonequinhos em cima um do outro, minha boneca ia morrendo por conta do sangue sendo sugado pelo vampiro. Me viciei nessa imagem e isso se tornou uma prática, colocava minha boneca para dormir para receber o vampiro para ele beber meu sangue. O sangue me deixava excitada. Sangue me deixa excitada. Demorei para entender até colocar na internet e chegar até vários de mim espalhado pelo mundo, espalhados pela minha cidade, espalhados pelo meu bairro. Nunca tive uma relação física, pois meu submundo interno não me deixava estar entre eles; Baunilha. Quando eu li o significado dessa palavra, nunca fez tanto sentido para mim. É como se eu procurasse uma palavra durante a minha vida toda, uma palavra para definir o que eu não era, o que eu não queria e o que eu jamais seria.
Maia, escrevo aqui para depois do nosso encontro você poder me ler. Sou péssima com palavras ditas, e melhor com escrita. Hoje não sei o que irei viver e por não saber, isso me excita. Me sinto perdida e assim me sinto viva. Me mate me acordando para a vida.

Sâmia

terça-feira, 17 de abril de 2018

Eu, Teresa





Eu,
Sem eu, nem mim
nem tupiniquim.
Sem história,
nem memória.
Só prosa
por hora.

Um dia fui eu,
no outro não-eu
e quando vi,
já não me via
não me reconhecia,
só me perdia.

Entre comprimidos assumidos,
tarjas e facas,
taças e ruaças.
Em você eu me vi.
No branco dos seus olhos me perdi.

Cade ela? Alguém a viu?
Ninguém sente a falta dela,
porque eles acharam aquela,
que por hora merecia,
viver na caricia de uma mão,
ou seria ilusão? frustação, decepção, desilusão
tanto ão,
para um chamado "machão"
que me pegava, me levava,
me ninava, me gritava,
calientava e falava
"Cade ela? Alguém a viu?"

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Letícia Zanini

Achei essa carta, e achei pertinente responde-lá. Faz tanto tempo e ao mesmo tempo parece que foi ontem que senti tudo isso. Minha inocência me deixou com um riso frouxo no rosto ao lê-lá. Fiquei feliz por ver que evolui, aquela menina da carta muda tanto. Hoje quase não a reconheço, exceto pela minha personalidade que nasceu e irá permanecer comigo. Mas nossas vidas, nossos devaneios e momentos mudam e assim mudamos nossa vivência perante os imutáveis segundos da vida. Apesar de muitas escolas de filosofia defendendo a ideia de que tudo na vida é cíclico e irá retornar ao seu ponto inicial discordo de algum modo. As coisas podem retornar, mas nunca retornar da mesma maneira. A cada giro, nos modificando e assim quando retornamos a mesma situação, levamos conosco nossa personalidade, nossa herança de vida, mas essa contém algumas coisas a mais na mala.
E é com essa mala, um pouco mais pesada que retorno. O que me motivou a escrever para você Doutor, é o mesmo motivo que me motivou há três anos atrás. Agora você irá se perguntar, a filosofia não tinha então razão? Exato! Volto ao mesmo ponto que anos atrás, mas agora casada, com uma atitude e uma coragem que aquela de anos atrás não tinha em sua bagagem. Meus escritores favoritos não são mais os nacionais, fui para a inquietude dos existencialistas, me encontrando no imagismo de James Joyce. James Joyce defendia o uso da linguagem coloquial, a criação de novos ritmos sonoros ultrapassando a métrica, liberdade na escolha do assunto, verso livre, poesia clara e apresentação de imagens, procurando traduzir detalhes com precisão. Aqui encontra-se, talvez uma bagagem nova em minha mala, a liberdade na criação. Passei a usar todos os meus sentimentos em minha poesia, sem julgá-los ou rotula-lós. Assim, como de uma machucado vem a excreção, das minhas dores veio a poesia. Zanini, me trouxe um arco-íris, talvez o arco-íris mais sépia há de existir. Mas esse chama atenção não pelas cores e sim porque depois de uma tempestade, veio o dia seguinte, depois do dia seguinte as lembranças viraram saudades e a saudade água. água onde escoa e atingi todos os lugares, ao mesmo tempo sendo adaptável, tendo como aliada o tempo.
Depois de você, tantas coisas aconteceram, você me fortaleceu tanto. Amei você, como nunca amei ninguém e assim passei a te odiá-lo como nunca odiei ninguém. O que seria das minhas palavras hoje sem a cavidade, na qual você atingiu o meu coração? O que seria de um criador sem a sua obra? Não teria obra, sem o seu criador.

Você criou em mim tantos medos,
Tantas aflições,
calafrios, coração pular a tal ponto de eu tentar encontrar geneticamente como eu isso poderia existir.
Sou católica, embora agora mais protestante devido as leituras e meu gosto por filosofia
Mas tenho uma fé, que existe por si só,
Você tremeu a parede da devoção a meus princípios.
Colocou minha ética na janela,
Meu racional massacrou-se e não consegue chegar aos ouvidos do meu coração,
Pelas batidas altas e aceleradas.
My rainbow,
passou.
E não passou?
Hoje eu abdico minha vontade de ter você, pelo meu capricho de tê-lo em meus sonhos apenas,
Mas você vem, e surge
sempre surge,


Desculpa Doutor, estou confusa com a ordem dos meus pensamentos e dos fatos. O fato concreto é que: fiquei três anos sem ele fisicamente em minha vida. Dois anos sem ele em meus pensamentos. E há três anos ele em minhas escritas. Conforme ele foi partindo dos meus pensamentos, ele aparecia quase personificado em minhas palavras. A lembrança e a memória colocaram-o como uma lembrança, das mais importantes que tive na vida. Ele me acendeu a atitude de mostrar ao mundo o mundo interno de Letícia, pelas minhas palavras. Voltando a realidade, meu estágio acabou. Meus pais vieram morar em São Paulo, meu pai deixou a colheita de morango que tínhamos na cidade e veio morar mais próximo a mim com minha mãe. Meu pai, homem muito ativo, criou um mini-mercado no bairro, a princípio alugou um apartamento com minha mãe. Antes da crise econômica as pessoas estavam sedentas por comida, então com a breve ascensão do mercado do meu pai, eles logo compraram o apartamento, não muito grande mas bem localizado. Minha mãe sente muita falta ainda de Monte Sião, vai sempre aos finais de semana para lá, porém sente-se contente em estar mais ao meu lado. Na primeira carta Doutor, eu não expus minha relação com minha família, mencionei que era de origem humilde e que tive uma educação católica, porém vale essa vez ressaltar que sou signo Virgem com Ascendente Câncer e Lua Aquário. O câncer diz o que sou, uma mulher que nasci para ter família. Talvez é sempre o que eu procuro em minhas poesias, encontra-lá. Não que eu não tenha uma família, pelo contrário, mas quero ter a minha. Procuro em minhas poesias o Amor, o que tanto me intimidou durante minha infância e minha adolescência (apesar de ser bem próximas a meus pais, nunca sentei no colo do meu pai ou fiquei no colo de minha mãe. "sua benção" era usado para expressar os meus sentimentos). O amor que senti por um homem e que nele reconheci-me como uma sedenta por amor. O amor...
Bom, depois que sai do escritório como estagiária, consegui no sarau que eu expus um curador que gostou dos meus poemas e se ofereceu para ajudar a lança-los. Foi assim que consegui tirar um pouco a dor da frustração do meu primeiro contato com o amor, lançando minhas poesias, a princípio foi em poucas páginas do livro de uma professora relevante de literatura. Minhas poesias conseguiram ganhar vida própria me proporcionando realização pessoal, mostram-me que eu sou capaz. Zanini passou a ser somente um personagem dos meus poemas, e quando conheci Eduardo, as coisas ficaram tão mais claras. Experimentei a sensação de ser amada, de ter um homem me tratando como uma Dama. Foi em uma livraria, onde eu sempre ia e ele também, que nos conhecemos. um dia sentada lendo, ele sentou-se ao meu lado e me perguntou o que estava achando do livro, lembro que era uma leitura trivial e que estava apenas matando o tempo até chegar um dos gerentes da livraria. Fiz uma breve explicação do livro, mas o suficiente para ele comprar e me pedir o telefone para dizer o que tinha achado depois de finalizar a leitura do livro. Achei abusivo e claro, não passei o telefone. Naquele dia mesmo, quando cheguei a noite, tinha um e-mail na minha caixa de mensagem de um certo Eduardo Rigatto. Logo ele me explicou que me viu falando com o gerente da livraria, o qual também conhecia, tinha pedido o meu telefone com a desculpa que gostaria de me chamar para uma matéria, ele é jornalista, e o gerente muito educado apenas passou o e-mail. No e-mail logo me surpreendi, ele escreveu coisas a meu respeito que nem mesmos as pessoas que me conhecem a tanto tempo, minha família e talvez dois amigos da faculdade, pudesse escrever. Ele em cinco minutos leu a minha alma, naquela livraria tão ocupada pelo vai-vem de shopping. Logo me apaixonei pela forma de sua escrita, ele tinha em sua ortografia e sua extensão de vocabulário uma poesia até então desconhecida à mim. O tempo que passei com ele foi um dos mais felizes da minha vida, a felicidade com ele era constante. Eu sabia que o tinha, e ele passou a me ter. Logo, conhecemos a família um do outro, ele me ajudou profissionalmente conseguindo expor meus poemas, pela sua influência como jornalista, em colunas diárias em diferentes jornais. Passei a viver como Poetisa e com um relacionamento promissor com um Jornalista que parecia ter saído de conto de fadas e vindo em direção a mim, com uma cavalo branco. Parei com os remédios, meu perfeccionismo passou a diminuir ao visto que ele era pior do que a futura esposa. Sempre tive o rosto de muito menina, minha mãe também possui face jovial, mas desde os dez anos já possuo coração de uma mulher dama de meia idade talvez, mas com o brilho e a suavidade de uma jovem, para alguns até adolescente. É como uma capa de um livro antigo, a capa é lisa e possui cheiro de livro novo, mas o livro já está na sua décima edição e é de 1908, é assim que me vejo. Edu logo identificou isso e fazia questão de falar quanto era bom ter uma menina tão mulher comigo, ou uma mulher tão menina. Edu é mais velho, tem trinta e três anos e um dia me leva para conhecer as montanhas do Chile e naquela vista maravilhosa me pede para ser a mãe dos filhos dele. Choro de emoção, vivo em um sonho, agradeço a deus por tudo. E volto para o Brasil noiva, e feliz como nunca. Mas a vida é ciclo e me esqueço e tropeço, quando me levanto vejo Ele, meu coração dispara mas meu corpo acostumou-se com a dor. Já me sinto forte, a olha-ló e encara-ló. Estou com um homem que me ama e que amo, tenho liberdade para meus trabalhos literários, e uma futura família tal como em meu sonho.
Pergunto Doutor por que o coração não consegue obedecer a quantidade de roupas que levamos em nossa mala?

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

It's me Mario








Era uma vez uma menina, que via sempre os pais brigarem. Até que um dia viu o pai ir embora e nunca mais voltar. A mãe fumava o dia inteiro e fazia outras coisas das quais a pequena menina não entendia. Um dia a mãe lhe contou que seu pai tinha ido embora, porque tinha uma outra família e que precisava retornar para ela. A menina não chorou, para ela a mãe era o sufiente, apesar de sempre viver cambaleando pela casa. A menina cresce e se torna uma bonita moça, começa a sair com as amigas sem ter hora para voltar. Logo de mocinha se intensifica na vida noturna. Até um amigo charme-lhe para trabalhar onde a mesma se divertia. Ela começa a ganhar um dinheiro e passar a ser a "hostel" das festas. Assim, a mocinha passa a ganhar o seu dinheiro e cada vez mais sua liberdade. A mãe não barra, diz que a criou para o mundo. O mundo acaba acolhendo a mocinha que agora é uma pequena mulher. É convidada a se agenciar como modelo fotográfica e passa a aumentar sua renda com fotos, eventos e showrooms. Chega em casa todos os dia muito tarde, ou no amanhecer do dia, seu dinheiro é gasto com roupas, cigarros e antidepressivos. Em uma dessas chegadas em casa, ela encontra sua mãe desmaiada no chão da sala. Pela primeira vez, ela chora como uma menina, por mais insuportável que sua mãe era, ela era única pessoa que ela tinha na vida para ocupar seu coração. Os paqueras e flertes não supriam o que a mãe lhe causava. Assim, levou a mãe para o pronto-socorro, onde lhe contaram que sua mãe precisava ficar enternada um tempo pois poderia ter uma dependência com os remédios/drogas. Voltou para a casa sozinha e sozinha ficou durante quatro meses, vendo sua mãe as vezes de sábado, no hospital psiquiatrico no qual ela estava. Mas um dia a estrela dela brilhou e um senhor muito elegante, que estava analizando as roupas nas modelos no showroom, lhe ofereceu um trabalho em Las Vegas. Ela trabalharia em um showroom na loja que ele tinha lá e não pagaria a passagem e nem hospedagem, moraria com outras modelos e ganharia em dólar. Não conseguiu colocar nenhum obstáculo e assim partiu com a intenção de ganhar mais dinheiro para colocar a mãe em um clínica em melhores condições. Logo no primeiro dia, foram buscar ela no aerporto e a levaram para o escritório para assinar o contrato. No escritório o mesmo senhor apareceu, contando-lhe que estava como principal empresário em um filme adulto e gostaria de contratá-la como atriz principal. No começo ela fez que não entendeu o fato de ser "filme adulto" mas logo quando percebeu, berrou que a inganaram que iria voltar imediatamente para o Brasil, mas o senhor mostrou-lhe o cachê que receberia, explicou que o filme seria veiculado só nos países da Ásia e parte ocidental da Europa, não seria comerciado nem para os Estados Unidos e nem para a America Latina. Quando olhou o valor do cachê, se viu com aquele dinheiro, era um valor que pagaria anos de clínica para sua mãe e para sua própria sobrevivência, poderia conhecer o mundo todo, o mundo o qual a mãe lhe criou para pertencer a moça. Diante de todos os pensamentos, pediu um dia para pensar. Assim foi para as ruas tão desejadas newyorkinas. "Aqui é o meu lugar, o mundo é o meu lugar, eu quero tudo isso!" Dizia ela para si mesma. E com essa decisão refletiu "transo com tantos caras que as vezes não pagam nem uma cerveja para mim" "não estou fazendo nada demais, apenas transando com mais um, na frente de uma câmera" "lembro quando o meu primeiro namorado filmou a gente transando e depois mostrou o vídeo quase para escola inteira". E com o último pensamento, voltou o mais rápido possível para o escritório, para não se arrepender e assinou. No seu primeiro dia de filmagem, estava com o coração acelerado e pela primeira vez rezou pedindo proteção para um deus no qual nunca tinha até agora acreditado. Depois de uns cinco minutos no set de flmagem, ela já estava em casa e se forçou a esquecer a câmera, lembrava das noites e dos caras que já passaram pela sua vida. Quando terminou, sentiu um alívio com misto de orgulho, sabia que tinha feito um bom trabalho. Durante o sexo, era um dos momentos dos quais ela sentia-se vivendo sem pensar, vivendo pelo prazer e pelo extase da vida. Voltou para o Brasil, colocou a mãe em uma das melhores clínicas de reabilitação onde descobriu que sua mãe não era dependente quimica e sim alcoolatra. No mesmo mês, foi para a Europa, no primeiro pais logo conheceu uma Norueguesa em um hostel. Se apaixonou, amou, se apegou e viveu um sentimento que a tirou de toda sua certeza levando-a ser tão leve como uma folha que cai. Realizou o sonho de viajar junto com sua enamorada. Foi para muitos paises e muitos lugares, viveu intensamente como não se tivesse o amanhã. Um dia sua primeira paixão revela que é casada e que está sumida de casa, porque precisava de um tempo para pensar, porém que esse tempo foi ótimo para ver que ela precisva voltar, para seu marido e sua filhinha. E assim todo esse sonho acabou, junto com o seu dinheiro. A moça volta para Los Angeles atrás da produtora, ela quer ganhar mais dinheiro. Porém a produtora fechou e o senhor elegante empresário voltou para o Brasil. Com malas e muita vivência ela retorna para seu país. Precisa começar do zero, sente-se perdida, volta a trabalhar na balada que antes trabalhará, mas o dinheiro já não é suficiente. Procura outras coisas: garçonete, vendedora e babá. Trabalha muito para ganhar dois mil reais por mês. Dois mil para morar em um quarto. O vencimento da clínica da mãe está para vencer e ela não quer mais que a mãe saia da clínica, tem medo da mãe de volta ao mundo. Pensamentos intercalam-se em possibilidades, onde sua única experiência concreta é atriz de filme adulto. Sem dar vazão aos pensamentos críticos, ela pega a fita do filme que fez e vai atrás de uma produtora de filmes adultos famosa em São Paulo. Ela sabe que será aceita, afinal fez um filme internacional. Mas o medo do que seria para ela depois a deixava acuada. Chegou na porta, antes de tocar o interfone, tinha um rapaz fumando. Ela pede um cigarro e desabafa com ele que precisava ficar calma, ele pergunta rindo o que aconteceu e ela decide contar para ele. O rapaz a surpreende falando "contratada" e fala que é diretor e produtor. O rapaz nem ao menos viu a sua fita, foi ver depois de uns meses. Uns meses depois de parceria no trabalho, ele conta-lhe que o que fez a contratar sem ao menos ver o seu desempenho nos filmes, tinha sido o nervosismo. Uma menina com carinha de medo seria ótimo para cenas que estimularião o público. No entando, o que efetivamente fez-lhe confiar no trabalho da moça ao longo dos trabalhos, era que a mesma não era atriz, então dava o texto sem nenhuma intenção, em um modo frio, como se não quisesse causar nada pelo dito. Mas seu corpo fala por si mesma. O desdém é um fetiche para o sexo. Assim, o produtor e a moça tornaram-se amigos, ele a entendia, quando decidiu estudar cinema não pensou que acabaria como diretor de filmes pornos. Ao ganhar dinheiro, acabou tirando os pudores e se permitindo a uma vida não planejada. As vezes eles transavam, as vezes só conversavam e com o tempo só compartilhavam da compania um do outro, nos sets de filmagens, iam jantar juntos, beber juntos, e ganhar dinheiro juntos; esse era o vínculo que mantinham. A moça conheceu muita gente, fez seu nome e mantinha uma família durante as gravações.
A vida me levou para onde estou. Não fui atrás de nada, sou filha de Yemanjá e deixe-me levar por um mar. Esse mar teve tempestades, ressacas e dias tranquilos. Desde menina quis ganhar dinheiro para ajudar minha mãe e ter minha liberdade. E hoje vivo exatamente essa realidade. Falo para o Ivan que não escolhemos a vida, ela nos escolhe.
Quando voltei dos Estados Unidos me senti perdida, não queria olhar para as pessoas nas ruas, eu não sabia o motivo mas de uma forma elas me irritavam. Talvez a felicidades delas, ou os sorrisos simpaticamente falsos. Comecei a usar muito preto e camiseta de bandas que representavam para mim o que eu queria dizer naquele meu não-sorriso. As pessoas pararam de sorrir para mim nas ruas, aí comecei a sentir-me a vontade diante delas. As roupas pretas me apagavam e assim que eu podia respirar tranquila. Tinha que esperar muito tempo no set de filmagem para gravar e um dia ví o filho de um dos produtores jogando em uma salinha ao lado, um jogo de video-game. Ele pediu para jogar comigo e a partir daquele dia pedi que sempre tivesse um video-game para mim no set para eu jogar antes de entrar no set. Passou a ser a melhor hora do meu dia, jogar o jogo, era o mesmo prazer do sexo, não pensava em nada naquele momento, só na fase que eu tinha que passar. Assim comprei um Nitendo e completei um ciclo o qual vem sendo minha realizada vida.

Sou feliz.

Júlia M.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Carta de uma atriz para sua Persona




Me sinto assustada, tenho medo; recuo. Algo me prende. Eu sei que esse algo, pode me soltar e me fazer saltar e voar para aqueles lugares que em meu sonho aparecem ser tão altos e tão próximos. Sinto que tenho tudo, e que é muito simples, mas meu elo com minhas aspirações me fazem parecer tudo dificultado. Irei silenciar-me e sentarei no pé de uma montanha e respirarei profundamente agradecendo a mim mesma, por viver o meu sonho. Sentirei meu corpo leve e desfrutarei de momentos...é tão simples. Tão prazeroso, e ao mesmo tempo tão comprometedor. Sinto que cada persona que se renova em mim, ela vem com mais pesar, mais responsabilidade, mais densidade em minha vida, e eu sei que isso atrapalha o meu caminhar sereno. Tenho consciência, mas cada vez mais a mais madura e comprometida mulher em mim floresce. Meu encontro com elas, está cada vez mais selado em minhas escritas. Reorganizo-as com minhas palavras pensadas e ditas pelas pontas dos meus dedos. Esse momento, é tao lindo, tão profundo. Nosso encontro! Sinto ela, sinto ela vir, sinto minha mente e meus problema se distanciarem e ficarem pequenos. E esse momento chega a ser tão único. Sinto-me sentada na frente dela e ela sorri para mim. Consigo enxergar ela agora, tão linda, tão serena, tão mulher e ao mesmo tempo um cristal, que pode quebrar a qualquer momento. Agora sinto minhas lágrimas correrem e uma compaixão por ela, é evidente que ela exista, ela é real. Tão bom senti-lá em minhas lágrimas. Um vazio toma conta e uma falta de pensamento ocupa todo o ambiente ficando apenas a música que de alguma forma me liga a ela, quem canta é uma mulher com uma voz pertinente e ao mesmo tempo leve como uma folha caindo no chão. A melodia me lembra a voz dela, a minha voz, a melodia me lembra uma força que quero ter, como atriz e como ela, e como eu. Não existe ela e eu, somos a mesma, mas separas por uma circunstância. Tenho que me observar, colocando-me em terceira pessoa, ao meu ver, consigo enxerga-lá e me enxergar melhor.
Agora entro em um papo cabeça, um papo cabeça mais coração. Entendo o que ela está passando, mesmo ela não conseguindo enxergar. Sinto, com muita dor no coração, que estou passando pela mesma situação. Isso nos une, isso juntas as duas que estão em mim na mesma circunstância, mas aquela que está no papel, ainda, não tem procedência dos fatos, ao passo aquela que está em meu corpo sabe seu destino e me pergunto é o meu também? Hoje, estou mais leve para falar sobre isso, estou cansada de andar com a angústia da indecisão de ser amada. Nos apaixonamos, eu e ela eu, estamos no mesmo metro quadrado. Quero levar isso de alguma forma para a vivência dela/ minha, pois isso, assim como ela, é real.


obs: e ele não me escreve, não demonstra um carinho e parece indiferente em como meu dia procede. Ausência dele, a dúvida do sentimento correspondido, um pequeno rancor por gostar dele, por estar envolvida com ele. Uma quase graça, por ele ser tão distante do que sempre imaginei para mim e tão tudo o que eu imaginei para mim. Compartilho isso com Letícia, que ri de mim e me responde "entendo perfeitamente".